terça-feira, 10 de agosto de 2010

A História do Locução Esportiva

Só mesmo no país do futebol é que o gol no rádio poderia ter outro som. A narração de uma partida pelos locutores brasileiros é singular. Jogando com o imaginário do fanático torcedor, o locutor cria um lance mais bonito do que a realidade. É uma descrição sempre emocionante, precisa e rica em detalhes. O narrador brasileiro, advogado criminalista e jornalista de São Paulo, Joseval Peixoto, conta sua experiência em partidas no exterior: "A gente grita sem se preocupar com quem está em volta". É um espetáculo à parte para a platéia do primeiro mundo, habituada a uma narração mais informativa e menos empolgante.
Quem começou tudo isso foi Nicolau Tuma, que fez a primeira transmissão de um jogo de futebol do rádio brasileiro, em 20 de fevereiro de 1932. A emoção na hora do gol sempre respondeu ao grito que vinha das arquibancadas. O futebol é a grande paixão nacional do Brasil, tanto que, em 1938, o compositor Ari Barroso, autor de Aquarela do Brasil, naquela época também locutor esportivo, inventou uma forma de destacar o gol na sua narração, para não ser abafado pelos torcedores. O jornalista Sérgio Cabral conta no livro No Tempo de Ari Barroso que sua descoberta saiu de uma loja de brinquedos, onde Ari buscava algo que tivesse um som infantil. Seu encanto foi uma gaitinha, que soprava na hora do gol, com mais intensidade se fosse do Flamengo, seu time do coração.
Naquele mesmo ano, 1932, o rádio brasileiro transmitiu pela primeira vez um campeonato mundial de futebol: a Copa do Mundo da França. Serviços de alto-falantes foram instalados nas praças de centenas de municípios brasileiros, para que a população pudesse acompanhar as partidas através da narração de Gagliano Neto. De lá para cá, o rádio revelou seguidas gerações de locutores, na sua maioria formados no interior do país. Do estilo mais descritivo de Jorge Cury, Edson Leite, Oduvaldo Cozzi e Rebelo Júnior - o homem do gol inconfundível - ao ritmo alucinante de Pedro Luiz, Geraldo José de Almeida, Waldir Amaral, Joseval Peixoto, Fiori Giglioti, Osmar Santos e José Silvério. Estes nomes desfilaram pelo dial do rádio brasileiro ao longo das últimas cinco décadas, despertando paixões nos ouvintes como se fossem os próprios ídolos do futebol.
Para se manter bem informado sobre futebol no Brasil, o torcedor sabe que o veículo que melhor cobre, difunde e promove este esporte é o rádio. No Rio de Janeiro, as Rádios Nacional, Globo e Tupi. Em São Paulo, a Bandeirantes, a Jovem Pan - antiga Panamericana - e a Record. Em Belo Horizonte, a Rádio Itatiaia. Em Porto Alegre, as Rádios Farroupilha, Gaúcha e Guaíba. Em Recife, a Rádio Jornal do Commercio. E, em Curitiba, a Clube Paranaense. Estas emissoras registraram sua marca na história do rádio esportivo brasileiro.
Mas nem só de futebol viveu o rádio do Brasil nos últimos anos. A cobertura do automobilismo brasileiro de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna teve espaço cativo nas principais estações do país. O maior sucesso nas transmissões da Fórmula-1, sem dúvida, foi alcançado pela Rádio Jovem Pan durante os anos 70. As corridas eram narradas por Wilson Fittipaldi, o "Barão", pai do piloto Emerson Fittipaldi, que conquistou seu primeiro campeonato em 72. No Grande Prêmio da Itália, que decidiu o título daquele ano, Wilson Fittipaldi não conteve a emoção com a vitória do filho, entregando o microfone ao comentarista Orlando Duarte para o final da transmissão.









Anos 20

Em 2 de novembro de 1922, surge a primeira emissora comercial no planeta, a WEAF, de Nova York.
No Brasil, a primeira estação de rádio foi instalada no Rio de Janeiro, com equipamentos fornecidos pela americana Westinghouse. A inauguração aconteceu no dia 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do centenário da Independência. Foram importados para o evento 80 receptores, através dos quais alguns representantes da sociedade carioca puderam ouvir o discurso do então presidente Epitácio Pessoa. Óperas deram seqüência às transmissões, que no entanto foram interrompida por um período por não haver um projeto de programação contínua.

É importante dizer que antes dessa primeira transmissão, a oficial, alguns amadores já haviam feitos suas próprias experiências. Assim, para muitos o nascimento do rádio no Brasil se deu na inauguração da Rádio Clube Pernambuco, quando Oscar Moreira Pinto fez suas primeiras transmissões com um equipamento trazido da França, no dia 6 de abril de 1919, em Recife.

Em 1923, é feita a primeira transmissão de rádio em cadeia no mundo, envolvendo a WEAF e a WNAC, de Boston. Neste mesmo ano, surge a primeira emissora brasileira: A Sociedade Rádio do Rio de Janeiro, fundada por Roquette Pinto, o pioneiro do rádio no Brasil. Para ele a rádio deveria Ter como função principal a educação. E foi com essa característica educativa que a rádio se manteve durante anos. Em sua programação eram dadas as cotações das bolsas de açúcar e café, além da previsão do tempo e de números musicais. Principalmente no início da rádio, a maior parte da programação dedicava-se a música erudita. Em 30 de novembro é criada a Sociedade Rádio Educadora Paulista - Pra-E.

É em 1925 que tem início a programação esportiva no rádio brasileiro, com a rádio Educadora de São Paulo. Numa tarde de Domingo de abril desse ano, a rádio transmitiu os resultados dos jogos de futebol da "capital, interior e estrangeiro". Nesse período as transmissões não eram feitas diretamente dos estádios de futebol. Enviados das rádios aos jogos mandavam telegramas contendo os resultados das partidas. Com esse material em mãos, os locutores passavam as notícias aos ouvintes.

Durante toda a década de 20 acontece uma verdadeira "febre radiofônica" pelo Brasil. Ainda não era um fenômeno de comunicação de massa, mas já ia conquistando o espaço que faria do rádio parte da história brasileira. Como a publicidade ainda era proibida, as emissoras costumavam ser projetos que eram pagos por mensalidades de seus sócios. Daí as rádios serem sempre chamadas de clubes ou sociedades. Algumas dessas rádios que foram surgindo:

1923 - Rádio Clube Paranaense (PR)
Rádio Educadora Paulista (SP)

1924 - Rádio Sociedade Maranhense (MA)
Rádio Clube do Ceará (CE)
Rádio Sociedade Riograndense (RS)
Rádio Sociedade da Bahia (BA)

1925 - Rádio Pelotense (RS)

1926 - Rádio Educadora do Brasil (RJ)
Rádio Clube do Brasil (RJ)

1927 - Rádio Sociedade Gaúcha (RS)
Rádio Cruzeiro do Sul (SP)
Rádio Sociedade Mineira (MG)
Rádio Mayrink Veiga (RJ)

1928 - Rádio Clube do Pará (PA)





Anos 30
Nos anos 30, havia 29 emissoras brasileiras que transmitiam basicamente ópera, música e textos instrutivos.

1931
Nicolau Tuma, o Speaker Metralhadora.
- Eu estou aqui no reservado da imprensa, contemplando as arquibancadas. Estou ao lado das gerais e vou tentar transmitir para vocês que me ouvem um relato fiel do que irá acontecer no campo".

Assim, no dia 19 de julho o jovem locutor Nicolau Tuma realiza a primeira transmissão ao vivo de um jogo de futebol diretamente do campo. Os jogadores não possuíam numeração, não havia comentarista, repórter de campo ou comerciais, o que obrigava o narrador a falar sem parar, sem tempo para descansar. Num jogo digno da importância histórica que teve, a seleção paulista venceu a paranaense por 6X4. Já nessa primeira narração Nicolau Tuma estabeleceu padrões que ainda são utilizados.

De maneira quase instintiva, ele levou o público ouvinte a fazer imagens mentais que permitissem ter a noção de saber tudo o que acontecia em campo. Para tanto, Tuma dá algumas dicas ao ouvinte. Pede que pensem em uma caixa de fósforos e começa a dar referências sobre o espaço, explicando que do lado direito estão os paulistas e do esquerdo, os paranaenses. No segundo tempo, invertem-se as posições.

Nicolau Tuma não gritava durante um longo período quando era marcado um gol. Na opinião dele, o ouvinte queria logo saber quem tinha feito o gol e quais eram os detalhes da jogada. Seu modelo de narração prevaleceu durante anos.

Durante uma prova de automobilismo no circuito da Gávea, em 1934, Tuma colocou vários "informantes" ao longo do circuito que transmitiam a ele por telefone o que de mais importante estivesse acontecendo na corrida. Eram os primeiros repórteres de nosso rádio esportivo.

Nesse ano nasce a pioneira PRB 9 - Rádio Record de São Paulo.

1932
Getúlio Vargas autoriza a publicidade veiculada em rádio, criando o conceito da audiência e possibilitando o desenvolvimento de uma rádio mais comercial. Surge aquele que pode ser considerado o primeiro jingle brasileiro. O compositor e cartunista Antonio Nássara improvisa um fado para fazer a propaganda de uma padaria no Rio de Janeiro. Cantou: -- Seu padeiro não esqueça, tenha sempre na lembrança: o melhor pão é o da Padaria Bragança.

1934
É criada a Rádio Difusora em 1934 apelidada de "Som de Cristal". De lá, surgiu o termo radialista, inventado por Nicolau Tuma.

1935
Assis Chateaubriand inaugura em 25 de setembro a PRG-3, Rádio Tupi do Rio de Janeiro, a Cacique do Ar. Chateaubriand foi o pioneiro na formação da primeira rede nacional de comunicações no Brasil: Os Diários Associados e Emissoras Associadas.

- Alô, alô Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro! Com esta frase, surgia a PRE-8, que foi adquirida por apenas 50 contos de réis da Rádio Philips, no 12 de setembro de 1936.

1936
Na Rádio Cruzeiro do Sul, Ary Barroso começa sua carreira de narrador esportivo, que o consagrou como o Speaker da Gaitinha. Isso porque por diversas vezes o locutor era obrigado a transmitir os jogos da arquibancada. A barulheira feita pela torcida no momento do gol acabava por encobrir a voz do narrador. Criativo, Ary Barroso soprava uma gaita no momento do gol, superando em altura o barulho feito pela torcida. Tornou-se a marca registrada dessa figura que, entre outras coisas, deu à nossa cultura músicas como No tabuleiro da baiana e Aquarela do Brasil. Flamenguista fanático, tocava com uma vontade muito maior sua gaita quando o gol era do time rubro-negro. Em um campeonato Sul-Americano, o locutor e compositor chegou a desmaiar no meio da transmissão.

1938
A Copa da França marca um dos principais momentos da história do rádio esportivo do Brasil. No dia 5 de junho, na partida entre Brasil e Polônia, vencida pela nossa seleção por 6X5, realizava-se a primeira transmissão esportiva em cadeia nacional diretamente da Europa. O locutor paulista Leonardo Gagliano Neto, titular do Departamento de Esportes da PRA-3, Rádio Clube do Brasil do Rio de Janeiro, foi o autor da façanha.

Único locutor sul-americano na França, as narrações de Gagliano fizeram o Brasil parar para ouvir a campanha de Leônidas da Silva e companhia na campanha que levou o Brasil ao terceiro lugar no mundial. O povo vibrava em poder acompanhar lance a lance o que acontecia do outro lado do Oceano Atlântico. Reunia-se no Largo do Paissandu, em São Paulo, na Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro e em outros lugares em que as emissoras colocavam alto-falantes para o público. Bares, restaurantes, casas, ou qualquer lugar que tivesse um rádio transformava-se num ponto de encontro para que as pessoas se reunissem. Os fenômenos da popularização do futebol e do rádio caminhavam juntos e alimentavam um ao outro, criando uma forte identidade cultural brasileira.




O mais brilhante jogador brasileiro no Mundial da França, artilheiro da competição foi Leônidas da Silva. Mas sua carreira
no esporte continuou depois de já ter "pendurado as chuteiras". Quando parou de jogar futebol, o Diamante Negro tornou-se um dos pioneiros de nosso rádio esportivo, como comentarista de futebol da Rádio Pan-americana, a Emissora dos Esportes.

No dia 30 de outubro, a rádio americana CBS apresentava o programa A Guerra dos Mundos, com Orson Welles. Naquela edição ele simulava uma invasão de marcianos aos Estados Unidos. O realismo era tamanho que uma onda de pânico tomou conta do País, quando o locutor anunciava:
- Atenção senhoras e senhores ouvintes... os marcianos estão invadindo a Terra...
Rádio Cruzeiro do Sul, em 1936, Ary Barroso começa sua carreira de narrador esportivo, que o consagrou como o speaker da gaitinha. Isso porque por diversas vezes o locutor era obrigado a transmitir os jogos da arquibancada. A barulheira feita pela torcida no momento do gol acabava por encobrir a voz do narrador. Criativo, Ary Barroso soprava uma gaita no momento do gol, superando em altura o barulho feito pela torcida. Tornou-se a marca registrada dessa figura que, entre outras coisas, deu à nossa cultura músicas como “Canta Brasil” e “Aquarela Brasileira”.
Os locutores dessa época eram também torcedores em campo. Eles raras vezes disfarçavam para que time estavam torcendo, acirrando a rivalidade entre as torcidas. Ari Barroso, flamenguista fanático, tocava com uma vontade muito maior sua gaita quando o gol era do time rubro-negro. Em um campeonato Sul-Americano, conta Nicolau Tuma, o locutor e compositor chegou a desmaiar no meio da transmissão e o narrador Gagliano Neto, ao criticar a Argentina em plena Buenos Aires quase provoca uma “guerra”.
A Copa de 1938, realizada na França, marcou um dos principais momentos da história do rádio esportivo do Brasil. No dia 5 de junho, na partida entre Brasil e Polônia, vencida pela nossa seleção por 6X5, realizava-se a primeira transmissão esportiva em cadeia nacional diretamente da Europa. O locutor paulista Leonardo Gagliano Neto, titular do Departamento de Esportes da PRA-3, Rádio Clube do Brasil do Rio de Janeiro, foi o autor da façanha. Único locutor sul-americano na França, as narrações de Gagliano fizeram o Brasil parar para ouvir a campanha de Leônidas da Silva e cia. na campanha que levou o Brasil ao terceiro lugar. O povo vibrava em poder acompanhar lance a lance o que acontecia do outro lado do Oceano Atlântico. Reunia-se no Largo do Paissandu, em São Paulo, na Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro e em outros lugares que as emissoras colocavam auto-falantes para o público. Bares, restaurantes, casas, ou qualquer lugar que tivesse um rádio transformava-se num ponto de encontro para que as pessoas se reunissem. Os fenômenos da popularização do futebol e do rádio caminhavam juntos e alimentavam um ao outro, criando uma forte identidade cultural brasileira.
O mais brilhante jogador brasileiro no Mundial da França, artilheiro da competição, foi Leônidas da Silva. Mas sua carreira no esporte continuou depois de já Ter “pendurado as chuteiras”. Quando parou de jogar futebol, o “Diamante Negro” tornou-se um dos pioneiros de nosso rádio esportivo, como comentarista de futebol da Rádio Panamericana, a “Emissora dos Esportes”.

Anos 40
Estréia o primeiro jornal falado do rádio brasileiro, o Grande Jornal Falado Tupi, de São Paulo. Também nesse ano surge o programa No mundo da bola, comandado por Antonio Cordeiro, que se tornou bastante conhecido na época.

1941
A primeira rádio-novela do país é transmitida. Ela durou cerca de três anos e se chamava Em Busca da Felicidade, pelas ondas da PRE-8, Rádio Nacional do RJ. Depois veio o grande sucesso, a novela O Direito de Nascer.

Surge o noticioso mais importante do rádio brasileiro chamado de Repórter Esso. Às 12h45min de agosto, a voz de Romeu Fernandez anunciava o ataque de aviões da Alemanha à Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial. O locutor mais famoso do programa foi o gaúcho Heron Domingues,. Em São Paulo a transmissão era feita pela Record PRB-9. A credibilidade do noticiário era tão grande que o público só acreditava nas notícias se confirmadas pelo Repórter Esso.

O mais que consagrado grito de gol prolongado, que se ouve hoje em todas as rádios do Brasil, teve sua origem em meados da década de 40, criado por Rebello Júnior. Seu "Goooooool!!!" foi primeiro uma marca registrada do locutor, que depois se difundiu para a transmissão de jogos de futebol entre todos os narradores. Mas Rebello Júnior ficou conhecido como "o homem do gol inconfundível".

A disputa por audiência era grande e os locutores precisavam se esforçar para se destacarem uns dos outros. O uso de expressões como "pimba" para definir o chute a gol e "balançou o réu da noiva", para o momento do gol marcaram a carreira de Raul Longras, que se tornou famoso pelo uso delas. Mas o pioneirismo do uso de expressões desse tipo talvez seja de Ailton Flores, o "Canarinho", da Rádio Cruzeiro do Sul do Rio de Janeiro, ainda que ele não tenha sido reconhecido por elas como foi Raul Longras. A década foi muito fértil no campo do rádio esportivo.

É nesse período que surgem locutores como Jorge Curi, Luiz Mendes, Waldir Amaral, Pedro Luiz, Geraldo José de Almeida e Fiori Gigliotti.

1948
Estréia o programa de maior êxito da Rádio Nacional, o "Balança mas não cai", com os famosos "primo pobre e primo rico", vividos por Brandão Filho e Paulo Gracindo.

Raul Brunini, na Rádio Tupi desde 1941, se tornaria o primeiro brasileiro a comentar os Jogos Olímpicos no rádio brasileiro.


1949
No dia 1º de abril, o locutor esportivo Geraldo José de Almeida, da Rádio Record, irradia um jogo inteirinho do São Paulo, que contava com Leônidas e Bauer e estava excursionando pela Europa. Final da partida e um resultado que chocou os torcedores: o São Paulo havia perdido por 7 X 0. Só no dia seguinte a Rádio Record anuncia que tudo não passou de uma farsa. Era uma pegadinha do dia da mentira.

Anos 50
No mundo das comunicações, a década de 50 é marcada pelo aparecimento da televisão, que se torna a principal concorrência do rádio, obrigando-o a se transformar para se adaptar ás novas condições.

Nesse período ocorre uma migração do rádio para a televisão, não só de profissionais como do estilo de programação. Assim, programas de auditório e novelas começam a ocupar a programação televisiva. Com o espaço deixado e o crescente interesse do público, a programaç‹o esportiva vai ganhando terreno dentro da rádio.

Um belo exemplo da função que o rádio adquiriu nesse período lê-se em um artigo escrito pelo cantor e compositor Chico Buarque, para o jornal O Estado de S. Paulo, a respeito de como foi ouvir a Copa de 50 pelo rádio. Na época da Copa, Chico Buarque tinha 6 anos de idade. Segundo ele a emoão vinha do "Maracanã, recém concluído, o maior estádio do mundo,(...) a primeira maior coisa do mundo que faziam no Brasil, e a molecada enchia a boca para falar ÔMaracanãÕ"...".

A verdadeira Copa, para quem morava em São Paulo, chegava pelas ondas da Rádio Panamericana. Mais que o locutor, era o eco do Maracanã quem narrava o jogo. O estádio fazia ÔóóóóóóóóóóóÕ, e era jogada de efeito. Fazia Ôúúúúúú«Õ, bola raspando a trave. Fazia "hhhhhhhhhhhhhhhh", Brasil de novo no ataque. Gol, e o Maracanã explodia, e a gente cantava touradas de Madri pulando na cama. No dia em que perdemos a Taça para o Uruguai, claro que desliguei o rádio e taquei a culpa no Maracanã".

Nessa época aparece o repórter de rua, que até então era desconhecido do público brasileiro. Um dos primeiros a fazer esse tipo de reportagem foi Tico-Tico, que ficou conhecido por garantir ao público não só a credibilidade da informação, como também uma boa dose de entretenimento, devido a seu talento, que unia inteligência e bom-humor. Fez escola.

1955 As rádios já existentes comeam a ganhar um novo concorrente dentro do próprio rádio. Nesse ano é feita a primeira transmissão experimental de rádio FM, pela Rádio Imprensa,, do Rio de Janeiro. A responsável pelo feito foi a empresária Anna Khoury, fundadora da Rádio Eldorado. Nessa ocasião as transmissões se restringiram ˆs instalações da própria emissora, funcionando mais ou menos como uma linha telefônica interna. Esse foi o primeiro passo das rádios FM, que foram conquistando o público cada vez mais, a ponto de hoje em dia ameaçar o futuro das rádios AM.

O conceito de rádio pirata nasceu na Inglaterra no final desta década. Algumas emissoras foram montadas e transmitiam a partir de barcos ancorados na costa inglesa para burlar a legislação. Uma das emissoras mais emblemáticas dessa época foi a Rádio Caroline, criada para combater o monopólio da estatal BBC e veicular o emergente rock'n roll. Na Itália, esse tipo de rádio se adequa a um outro perfil, mais politizado e é nesse país que nasce o conceito de rádio livre. Faziam muito jornalismo, veiculavam programas de debates. Eram vinculadas a grupos de base, minorias e marginalizados.

Anos 60
No Rio de Janeiro a figura de um comentarista de futebol de rádio se tornou popularissima. Washington Rodrigues, o Apolinho, entrou para o jornalismo de maneira acidental. Por ser jogador de salão profissional, foi chamado por uma rádio para explicar as regras do jogo para a equipe esportiva. Mas ninguém se interessou muito pelo futebol de salão, um esporte amador. Por não estar podendo jogar ˆ época, devida a uma fratura na perna, Apolinho acabou sendo convidado para fazer o programa. Começava assim, na Rádio Guanabara, sua brilhante carreira. Seu envolvimento com o futebol era tão grande e sua figura tão popular que Apolinho chegou a comandar o time de maior torcida do pa’s. Em 1995, foi técnico de seu clube de coração, o Flamengo.


Anos 70
Um símbolo dessas novas vozes que surgiram foi Osmar Santos. Com seu jeito descontraído e uma narração recheada de expressões que acabaram caindo no gosto popular, o "garotinho" Osmar Santos se transformou no grande locutor de sua época. Expressões como "ripa na chulipa" e "pimba na gorduchinha" ou "bota sal na água" começaram a ser repetidos nos estádios e nas peladas pelo Brasil. O "pai da matéria", como também era conhecido teve uma passagem marcante pela Jovem Pan, onde trabalhou de 72 à 79. Mais tarde foi para a Globo, onde continuou sua trajetória de grande sucesso, chegando inclusive a fazer várias aparições na televisão, popularizando ainda mais sua carismática figura.

Um grave acidente automobilístico ocorrido em 94 afastou Osmar Santos das locuções

Anos 80
Outro nome que ainda hoje marca profundamente as locuções esportivas no Brasil é o de José Silvério. Para seus inúmeros fãs, ele é o "melhor locutor de futebol do mundo".
Exagero ou não, Silvério é mesmo uma referência para grande parte dos profissionais de rádio. O mineiro de Itumirim iniciou sua carreira nas mesas de futebol de botão. Enquanto jogava, "transmitia" o jogo para os "ouvintes". Um dia, enquanto "irradiava" uma partida, foi ouvido pelo diretor da Rádio Cultura de Lavras. Imediatamente foi convidado para trabalhar na rádio, oportunidade que agarrou e que iniciou oficialmente sua vida nos microfones. Teve uma brilhante e duradoura passagem pela Jovem Pan, iniciada com a saída de Osmar Santos da rádio, dando oportunidade para Silvério se consagrar nos anos 80. Hoje "solta sua voz" na Rádio Bandeirantes.

Ano 2000
O rádio entra no novo milênio provando que tem o seu lugar garantido no coração do torcedor. Seguindo a tendência iniciada no final da década de 90, o futebol invade algumas das estações mais populares em seus horários nobres, com grande resposta do público, inclusive as FM.

Não por acaso, a rádio Transamérica FM é uma das únicas emissoras brasileiras que pagaram a licença de transmissão da Copa do Mundo direto do Japão e da Coréia, reunindo-se a Rádio Globo e a Rádio Bandeirantes. Estas emissoras e suas equipes no Oriente garantem que a paixão brasileira em colar o ouvido no radinho não acabará tão cedo. Certamente outras rádios também transmitirão os jogos da Copa do Mundo, mas provavelmente com menos infra-estrutura do que as que conseguiram o credenciamento devido.

A Internet deu um novo fôlego para o rádio. A maioria delas possui sua própria página, onde é possível que o ouvinte-internauta, além de curtir seu som, pesquise sobre a história da rádio, participe de promoções, além de comprar os CD’s de seus artistas preferidos. É a demonstração que, sem perder o romantismo, as emissoras de rádio estão se adaptando e se preparando para os novos tempos.

A Copa de 2002 é uma ótima oportunidade para comprovar essa realidade.

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